A maioria das células humanas somáticas (ou seja, já diferenciadas) apresenta normalmente pouca ou nenhuma atividade de telomerase, uma enzima que catalisa a formação dos telômeros que são partes DNA nas extremidades, que não possuem informação genética. Isso significa que, embora essas células contenham o gene que codifica a enzima, ele está silencioso (inativo), não sendo capaz de produzi-la. Portanto, tais células se dividem por apenas 50 a 60 gerações antes que seus telômeros fiquem muito curtos para dar proteção aos cromossomos. Quando alguns desses terminais chegam a um limite mínimo de tamanho (característico para cada célula), isso sinaliza a parada das divisões celulares e o início do envelhecimento.
Esse ponto crítico, conhecido como ‘limite de Hayflick’ (Figura), é uma das razões que explicam por que não podemos viver para sempre! Existem, porém, células normais com alta capacidade proliferativa, como células germinativas jovens (esperma e óvulo não maduros), células-tronco embrionárias e algumas células somáticas. Entre estas estão as células endoteliais (que revestem o coração e os vasos sangüíneos e linfáticos), as células endometriais (que revestem o útero) em adultos e os linfócitos T e B (tipos de glóbulos brancos) quando induzidos à proliferação. Nestas, ao contrário do que ocorre na maioria das células somáticas, a telomerase se mantém ativa.
Relação entre o tamanho dos telômeros e a capacidade de proliferação celular: células germinativas (não diferenciadas – linha amarela) têm telômeros longos e multiplicam-se indeterminadamente, enquanto células somáticas (já diferenciadas – linha laranja) dividem-se por 50-60 gerações e perdem seus telômeros gradualmente (o ‘limite de Hayflick’ é o momento em que a maioria das células somáticas mostra sinais de envelhecimento). Células ‘em crise’ que já acumularam diferentes mutações morrem ou reativam a telomerase, tornando-se ‘imortais’. O encurtamento acelerado dos telômeros (linha roxa) ocorre em muitas síndromes relacionadas ao envelhecimento prematuro. Indivíduos portadores dessas síndromes apresentam precocemente patologias associadas apenas a idosos.
Entretanto, aquelas células que não têm esse poder de proliferação e que transpõem o chamado limite de ‘crise’ reativam a atividade de telomerase e continuam a se dividir indefinidamente. Tais células são consideradas ‘imortais’, e isso é o que acontece com 85% a 90% das células cancerígenas. A atividade ininterrupta da telomerase verificada nas células tumorais também é encontrada na maioria dos eucariotos (organismos cujas células têm núcleo definido) unicelulares. Assim, tais organismos também apresentam uma capacidade infinita de multiplicação quando em condições propícias no meio ambiente ou no hospedeiro, sendo considerados ‘imortais’. Essa condição só pode ser alterada se eles estiverem em meio não adequado para sua sobrevivência.
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